sábado, 8 de outubro de 2011

Liga não. Estou bêbado e provavelmente vou apagar isso amanhã.


Nós somos essas pessoas que, diariamente, comentam sobre os motivos dos nossos fracassos. É tudo tão frustrante. Tudo é sempre um empecilho pra tudo e as coisas entram em um círculo vicioso em que tudo vira uma desculpa para tudo também.
Isso é um problema real. É difícil escapar. Você anda com essa bola de chumbo no pé e ela parece feia, você sabe que é feio sair por aí a exibindo, mas o que pode ser feito? ela está lá.
Então você se sabota em um momento ou no outro, no princípio ou no fim, alimenta o que sabe que não é mas gostaria que fosse ou alimenta o que é pra tirar a bunda da seringa no
sprint final, afinal você não pode vencer mesmo, então pra que tentar se o fato é que quebrar a cara é o destino? Os meios fornecem algum prazer e vamos levando.
O que eu aprendi nessa minha vida é que tudo pode. Você pode mesmo fazer coisas incríveis com menos esforço do que imagina. Precisa de coragem verdadeira. E não dessa covardia disfarçada de coragem arrojada. Você vai surtar, mas essas desilusões são um saco pra continuar ali olhando tudo isso passar.
Não ligue. Eu ando bêbado nos últimos tempos. Então eu venho aqui pra escrever as cartas mentais que jamais mandaria. Dá um certo alívio, mas eventualmente crio atritos porque uma ou outra pessoa acha que é particular.
Mas não é. O ser humano é muito previsível e chato. A gente é mais parecido com aquela figura escrota que vivemos criticando.
Tá tocando essa música eletrônica em algum lugar por aqui perto (Preferia Bach. Algo para violoncello de Bach) e eu estou meio bêbado agora , não escreveria nada disso se não estivesse. Eu sou meio covarde pra falar coisas que não interessam a ninguém. Não sei porque. Elas não interessam a ninguém. Se bem que deve ser por isso mesmo. Se interessassem seria muito mais apropriado e fácil falar qualquer coisa.

Hoje eu me cadastrei como voluntário para fazer qualquer coisa para ajudar crianças e idosos abandonados.

A gente fica correndo o tempo todo pra ver se dá algum significado a essa merda toda. Mas tudo deve ser mais simples do que nós achamos que deveria ser.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O carro do meu avô


Meus avós possuíam um belo BMW aqui em Portugal. Todo chique, nos trinques, motivo dos orgulhos que correm assim, digamos, até onde a vista alcança, mas invisíveis quando debaixo de uma fina camada de pó.

Em um belo dia, após uma dessas festas-orgias alimentares que ocorrem tão freqüentemente nas casas e restaurantes dos do meu sangue, meu avô, ofuscado pelos raios de sol do fim da tarde que varriam estes tapetes que são as estradas de Portugal, e pelo whisky que circulava nos seus vasos sanguíneos e tecidos, inclusive nas suas novas válvulas “interespecíficas” (já que não são originalmente da nossa espécie) do coração, saiu velozmente da estrada, levou o carro por um monte de brita acima, alçou vôo e aterrissou, chapado, do outro lado.

Não sobrou nada que se aproveitasse do carro. O piloto e passageiros saíram de lá inteiros, com uma ou outra escoriação que não pareciam grandes diante do estado do automóvel.

Isso aconteceu há uns anos.

Estou agora por essas terras lusas, com meus avós e tias-avós. Os tenho conduzido todos os dias para onde quer que eles queiram ir. Guio um grande Mercedes, do início da década de 80, que meu avô chama de “transatlântico”. Pedaço concreto da história da família, esse carro merecia um livro somente sobre ele, devido ao seu significado e à sua “vida”.

Nunca tive tanto prazer em guiar um carro. E o prazer se torna ainda maior quando conduzo quatro das pessoas que guardam os segredos e histórias do que se passou com personagens de outros séculos, que já carregavam características que hoje levo comigo.

Percebo a comodidade, segurança e status que um novo carro traria nesse momento. E até concordo com o auê e empolgação em torno do assunto. Mas não acredito repetir a experiência que tive nos últimos dias se tamanha euforia for concretizada.

Transportar esse senhor e essas senhoras através de vilas de pedra e de grandes cidades de concreto nesta terra é dessas coisas que guardarei comigo até o fim dos meus dias.

~~

Outro dia saímos, eu e meu avô, do lava rápido, após banhar o nosso “transatlântico”.

- Ah! Agora ficou limpo! É um carro bonito! – trovejou meu avô.

Demos alguns euros de gorjeta para a jovem venezuelana de cabelos vermelhos que fazia a limpeza mais minuciosa e partimos, navegando pelas estradas de Portugal.

Em determinado momento passamos por uma propriedade nossa, e meu avô, com um gesto nada sutil, mandou-me virar e entrar naquele lugar, que por acaso está cheio de pinheiros altos como arranha-céus, terra, pedra e mato. Muito mato.

Assim fizemos, e levamos o transatlântico por terras inexploradas. Só para passarem a serem exploradas mesmo. Nada de mais.

No fim de tudo, o carro de quase 40 anos, lavado e brilhante, acaba cheio de pó e mato a enfeitá-lo. Com uma calota torta e faróis felizes.

Não me perguntem. Pode parecer estupidez. Mas a impulsividade e o desapego desse senhor, em prol da sujeira e do sorriso, me fez pensar que sou mesmo parte da família.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Cansei da minha própria raça. Somos todos idiotas.


Andei pensando (!?!?!?) sobre umas coisas. Algumas coisas socio-teológicas.
Isso. Sócio-teológicas. Soou arrogante o suficiente.

Costumo ficar puto com muitas coisas. Uma delas é a bestialidade com que ateus (não se enganem, me coloco entre eles, se é que o conceito de deus é restrito o suficiente para que eu componha o pelotão dos sem-fé) abordam o cristianismo.

Falar mal de religiosos já está batido demais. Então resolvi comentar algo sobre a estupidez da maioria daqueles que pregam abobalhadamente o fim imediato de qualquer instituição que não seja laica. Vejo isso como vejo o orgulho com que veganos radicais atacam os carnívoros... ...ou os que usam carteira de couro... ou todos os que não fotosintetizam. Ou seja, vejo isso como vejo qualquer pessoa que não leva em consideração diversos aspectos do ser humano, da sua história e da sua evolução.

Nós vivemos em um mundo cristão (nós. você e eu). Me impressiona muito o deslumbre intelectual sobre mitologia grega, ícones pagãos, deuses de comunidades americanas nativas, os milhares de personagens sobrenaturais de diversas civilizações orientais... e por aí vai. Houve e há barbaridade relacionada a essas "peculiaridades antropológicas" que fariam com que os pêlos do rabo de qualquer ser humano "civilizado" ficassem eriçados. No entanto, a grande parcela dos meus companheiros, que estudaram em grandes instituições de ensino e pesquisa, parece não conhecer quase nada sobre aquilo que atacam, e atacam de uma maneira tão simplória que soa patético, assim como soa patético a maioria dos fanáticos religiosos tentando falar algo sobre evolução e origem das espécies.

Digo e repito: a mitologia cristã é tão, ou mais, interessante do que qualquer outra. Não me façam passar vergonha, meus amigos. Ao questionarem um homem de fé, questionem um doutor no assunto, e não um fiel semi analfabeto.

Já esbarrei com diversos "revolucionários" (pseudo(-)intelectuais como eu usam muitas aspas na falta de um vocabulário mais apropriado) que ao criticarem, em não menos do que 50000 palavras, o cristianismo, concluem com um singelo "eu não sei nada sobre a história dessa religião", ou "eu evito entrar em igrejas", ou "eu não quero nem saber o que está escrito na bíblia". Não entendo bem. Posso falar algo com 50000 palavras sobre física nuclear, mesmo sem saber nada sobre o assunto, mas jamais seria levado a sério.

Há outros meandros que valeriam a pena serem comentados. Como a coragem de personagens associados com a fé cristã que se meteram e abraçaram causas como raramente vi acontecer com meus companheiros de profissão. Os meios pelos quais isso acontece são discutíveis, esse é um assunto espinhoso que não vale ser publicado em um post bobo como esse. Mas eu sinceramente não consigo enxergar candidatos à intelectuais da classe média-alta se engalfinhando com qualquer questão que tire o seu conforto. Nós somos muito apegados a certas coisas, apesar de constantemente brincarmos de Indiana Jones para dar algum significado a nossas vidas. Eu faço isso. É bastante fácil ser contra ou a favor de algo quando no final do dia você pode voltar para o seu sofá no bairro nobre da cidade. Pessoas assim não deveriam criticar tão ferrenhamente certos setores da sociedade. Estou entre essas pessoas e deixei de disparar palavrões contra as "vossas santidades" antes de saber de fato quem são.

A infância custa a nos largar, companheiros. Crianças culpam as pernas da mesa depois de toparem nelas.

Enfim, cansei de falar sobre isso.

Mas ainda poderia continuar por mais uns 2000000 de caracteres.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Aos intelectuais do meu coração

Duas coisas sempre passam na minha cabeça quando escuto alguma composição de Gustav Mahler:

-O Pateta regendo uma orquestra sinfônica;

-Um filme pornô em que o ator não goza nunca, por mais que grite e gema.

Não me perguntem a razão. Eu gosto bastante de Mahler.

~~

Estou em Recife faz pouco mais de uma semana e lembrei, saudoso e entre choramingos, de uma das noites de despedida com alguns amigos. Entre eles psicólogos, musicistas, filósofos, biólogos, artistas plásticos... ...e um advogado (!?).

Achei que deveria falar algumas palavras e o fiz, como segue:

"Nunca fui bom em dizer coisas. Na maioria das vezes em que abri a boca para falar algo que realmente pensava me meti em enrascadas ou fiz inimizades para todo o sempre. Acho que por esta razão costumo ser irônico e reticente em alguns momentos e semi autista em outros, o que só me custou desavenças esporádicas. Portanto serei breve em expressar meus sentimentos em relação à minha partida e a vocês todos, meus queridos amigos. Enfim, adaptando as palavras do pai de um grande companheiro de infância, vos digo: INTELECTUAIS DO MEU BRASIL, VÃO PRA PUTA QUE VOS PARIU!!!".

Fui ovacionado. Claro. Eram intelectuais de meia tigela.

sábado, 28 de maio de 2011

De mim para você, com amor.

À você que pegou o ônibus Rio Pequeno na Consolação com a Paulista, às 18:45 do dia 24/05/2011 - 1) se te encochei, acredite, não tive outra opção; 2) senhora de casaco cinza: espero que tenha gostado de passar a mão na minha bunda. Faço votos de que tenha sido bom para você. Se sentiu algo flácido provavelmente foi minha carteira, que anda invariavelmente vazia.

Com amor,

Luizinho

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Ontem fui ver a exposição do Leonílson, que está no centro cultural do Itaú (avenida Paulista, perto da estação de metrô Brigadeiro). E não tenho palavras para descrever a alegria que é ver uma exposição assim com uma amiga artista plástica competentíssima do lado. Obrigado, Ana!
Depois fui a um show no Memorial da América Latina. Merkén (um grupo chileno de música tradicional do país deles) e Mawaca (sensacional grupo brasileiro que escava, em um trabalho realmente arqueológico, e mistura sons tradicionais brasileiros e de outras partes do mundo). Dessa vez a companhia foi da bióloga e musicista Dani. Uma delícia mais uma vez.

Mergulhar nisso tudo que São Paulo carrega com gente que REALMENTE ENTENDE do assunto é algo que não tem preço.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Um brinde para todos os 3.

-"Chaaaarrrrlie. Ou Charles. Mas Chaaaaarrrlie é mais legal".
-"É mais sonoro. Mas Charlie é apelido de Charles".
-"hm. É. Mas Charlie é mais legal. Dá pra fazer música com esse nome".

Conversa entre duas pessoas peculiares na fila da padaria. Fez com que eu lembrasse de um acampamento de uma semana que fiz com uns amigos na ponta da Joaquina há mais de uma década e meia. No tempo em que quem acampava não usava tênis de alta performance, nem camisa de "tecido especial" e nem cantis que fazem capuccino.

-"ADORO! Adoro meus três sobrinhos!" - Disse o pescador bêbado em uma noite na vila isolada sem luz, nem chão, nem nome. Entre muito mar e muitas árvores.
-"Todos os três?" - Disse eu, o "não pescador" forasteiro branquelo para quem a vila fez uma festa. Bêbado.
-"TODOS!!! O Joséééééé...... e o Marcossss... e... e.... eeeee... e o HARRY!"
-"Harry?"
-"O José, o Marcos e o Harry."
-"Um brinde a eles."
-"Saúde."

A vida era muito mais interessante antes dos tênis de alta performance e camisas de tecido especial.

O cantil que faz capuccino deve ser legal.

domingo, 22 de maio de 2011

É meio complicado. Então tchau, SP.

Ando dando tchau para SP. São meus últimos dias por aqui. Reluto em partir. Uma parte de mim quer muito ficar.

Esbarrei nos melhores e piores professores. Nos melhores e piores relacionamentos. Nas pessoas mais perturbadas emocionalmente. Nas pessoas mais egoístas. Nas mais cultas e nas mais estúpidas. Nos melhores cinemas, teatros, shows e idéias. Foi por São Paulo que eu conheci mais gente do mundo todo. Foi por São Paulo que eu conheci a nossa miséria profunda e a nossa riqueza extrema. Eu mergulhei, literalmente, nas entranhas do lixo e do luxo disso tudo.

Isso tudo me consumiu até eu chegar no fundo do fundo. Na bebedeira, no descaso com os outros, no abandono de mim.

Morei em outras cidades, outros estados, e nesses tive armas apontadas para a minha cabeça, fui espancado, roubado e chamado, explicitamente, de diversos nomes nada bonitos. Trabalhei e me embebedei com assassinos e outros criminosos. Sempre entendi todos. Entendi. Essas relações sempre foram muito, muito simples.

São Paulo me mostrou as pessoas que eu não entendia. As que acabaram com o meu coração, as que me esfaquearam no fundo da alma, as que fariam tudo para subir um milímetro a mais depois de estarem além das nuvens. São Paulo me violentou de um jeito que eu achei que não poderia ser violentado. Me mostrou que a vida é mesmo uma novela absurda.

Agradeço de coração por isso. Hoje eu sei mais do mundo. Eu sei mais do homem.

Se eu perdi uma ingenuidade confortável e ganhei mais cabelos brancos, mais rugas e mais cansaço, eu também ganhei mais compreensão sobre o que podemos ser. Isso faz com que eu tenha menos raiva das pessoas.

Continuo com as mesmas dificuldades de viver no planeta. Mas não acho mais que somos o câncer do universo.

Somos só macacos que pensam que são grande porcaria (e sofrem por essa merda toda quando deveriam aproveitar enquanto podem).

Beijos, SP. Não me ligue. Já vou sentir saudade suficiente.

PS: Se você achar que me entende eu provavelmente vou rir da sua cara. Mesmo que entenda de verdade.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

uma ou duas gotas pro santo

Fui almoçar hoje aqui perto. Estou em SP por uns dias, pra me despedir. O que está me custando bastante.

Sentei no restaurante lotado, ao meu lado um casal discutindo, juntinhos, algo importante quando a moça dá um tapinha no braço do moço.

-ai! Isso machuca!
-Dói?? Sua bicha! Ferida na alma é que não se cura!!

Senti que o cara foi escroto em algum momento e, naquela hora, a moça estava tendo um prazer sadomasoquista/vingativo em estar ali conversando. O seu rosto com um sorriso debochado e olhar triste pendurados não escondia isso.

-Você é incapaz de chorar, seu escroto.

O cara tenta chorar, mas não é bem sucedido. Péssimo ator. Não é a toa que a moça descobriu o que quer que ele tenha feito.

Levantei e fui embora. Aquilo ali estava me cansando. Percebi, no caminho, como havia casais com semblantes tensos espalhados pelos cantos. Bem corriqueiro, dentro e fora da minha vida.

Eu sou mentalmente zoado. Mas me parece que grande parte das pessoas está fodida em outro nível.

~~

"Moço, o senhor tem um trocado? Perdi o meu bilhete único, moro longe, não sei voltar pra casa, meu filho está doente, minhe esposa é alcólatra e acabei de perder o emprego".

Dei uma grana para a passagem de ônibus.

"Obrigado e vá com deus".

Espero que a pinga tenha sido da boa. Se eu fui com deus, tomara que ele tenha despejado algo pro santo.

sábado, 19 de março de 2011

Trecho do meu diário de um ano de Piauí. Desenterrado do fundo da gaveta.

"...caí de costas no chão. Minha cabeça bateu na parte exposta de raiz de uma árvore bem ramificada que bloqueava os últimos raios de sol do fim da tarde na encosta de uma serra no sertão do Piauí. Serpenteando como relâmpagos dois macacos desceram por um desses caminhos já desbotados pela falta de luz até ficarem a poucos centímetros do meu rosto. Senti seus hálitos quentes e vi de perto seus caninos bem expostos, parte de uma expressão bem conspícua de ameaça que dizia SAIA DAQUI!
Olhei para o lado e enxerguei o mato do chão rochoso, fingi estar desatento aos dois e não estar assustado. A ameaça demonstrada diminuía gradativamente, mas voltava assim que eu mexia o menor músculo do meu corpo. Virar o rosto para o lado fez com que eles se acalmassem, porém eu só pensava nas minhas jugulares expostas a aqueles caninos molhados.
Suando frio, paralisado e sem saber como escapar daquela situação, eu ficava imaginando o que estava fazendo ali, há dezenas de quilômetros da cidade mais próxima (que já era minúscula) e muito, mas MUITO longe de casa, se é que aquela altura eu poderia dizer que tinha casa alguma.
Meus dedos se moveram como aranhas que me puxavam para fora, um centímetro por minuto, e a cada segundo o suor e o sangue, resultado de um longo dia entre a vegetação espinhosa, era sugado pela terra. Entre suspiros e urros abafados dos meus anfitriões eu me arrastei dali. Um macaco-prego grita ao ameaçar, mas grunhe abafado quando está hesitando há poucos momentos do alvo da sua desconfiança

O modo como seu coração bate faz toda a diferença quando se aprende a viver".

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Depois de sair de lá localizei meus dois mateiros, rindo com umas caras debochadas. Poderiam ter me salvo, mas preferiram se divertir um pouco com o pesquisador pretensioso da cidade grande.

Hoje eu amo esses caras. Por incrível que pareça.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

No entanto eu fico vermelho quando tomo sol.

Percebo que sou uma fraude.

As pessoas mais próximas me informam que sou arrogante. As não tão próximas afirmam que sou inteligente. Aproveito-me disso. O meu semblante de sujeito culto e minha tez de gringo já me abriram diversas portas e continuarão a abrir.

Outro dia fui renovar minha CNH e uma senhora do DETRAN me retirou gentilmente da enorme fila para a qual fui direcionado e me levou para uma confortável cadeira na frente da mesa dela.

Atendeu-me prontamente perguntando:

-Veio tirar habilitação para estrangeiros?

Eu não fui tirar habilitação para estrangeiros. Os mangues de PE são bem conhecidos por mim e nasci no pé do cais de Santos. Mas a confusão me resolveu boa parte da burocracia imposta às pessoas de semblante xucro e tez mais adequada ao sol implacável do nordeste brasileiro. Minha brancura é devida a algum holandês, alemão ou italiano infeliz que caiu por essas terras, fugindo de alguma grande guerra.

Essa mentalidade de colonizado ainda me oferece benefícios.

Como é que se faz para começar uma carreira de coronel?

domingo, 23 de janeiro de 2011

As coxas sufocantes da mulata

Outro dia um deputado me ofereceu charutos cubanos, dos que o Fidel fuma, bradando, sorridente e fanfarrão: "esse rapaz ainda vai vai ter o mundo a seus pés!!".

Eu disse que não fumava. Ele então não me deu os charutos, dizendo que, já que eu não fumava, eu os usaria para me afundar nas coxas de alguma mulata.

Não entendi bem, apesar de ter alguma idéia sobre a confecção de charutos cubanos e coxas de maravilhosas negras portentosas, mas pensei em pedir um cargo político.

Quem sabe algum dia eu vire um deputado e possa comprar meus próprios charutos do Fidel.

Afinal este pseudo gringo branquelo aqui gostaria muito de se afundar, de algum modo, nas coxas das tais mulatas.

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Só um sujeito muito perturbado choraria, assim como eu fiz, ao ler o final de "Memórias do subsolo".