sábado, 28 de maio de 2011

De mim para você, com amor.

À você que pegou o ônibus Rio Pequeno na Consolação com a Paulista, às 18:45 do dia 24/05/2011 - 1) se te encochei, acredite, não tive outra opção; 2) senhora de casaco cinza: espero que tenha gostado de passar a mão na minha bunda. Faço votos de que tenha sido bom para você. Se sentiu algo flácido provavelmente foi minha carteira, que anda invariavelmente vazia.

Com amor,

Luizinho

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Ontem fui ver a exposição do Leonílson, que está no centro cultural do Itaú (avenida Paulista, perto da estação de metrô Brigadeiro). E não tenho palavras para descrever a alegria que é ver uma exposição assim com uma amiga artista plástica competentíssima do lado. Obrigado, Ana!
Depois fui a um show no Memorial da América Latina. Merkén (um grupo chileno de música tradicional do país deles) e Mawaca (sensacional grupo brasileiro que escava, em um trabalho realmente arqueológico, e mistura sons tradicionais brasileiros e de outras partes do mundo). Dessa vez a companhia foi da bióloga e musicista Dani. Uma delícia mais uma vez.

Mergulhar nisso tudo que São Paulo carrega com gente que REALMENTE ENTENDE do assunto é algo que não tem preço.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Um brinde para todos os 3.

-"Chaaaarrrrlie. Ou Charles. Mas Chaaaaarrrlie é mais legal".
-"É mais sonoro. Mas Charlie é apelido de Charles".
-"hm. É. Mas Charlie é mais legal. Dá pra fazer música com esse nome".

Conversa entre duas pessoas peculiares na fila da padaria. Fez com que eu lembrasse de um acampamento de uma semana que fiz com uns amigos na ponta da Joaquina há mais de uma década e meia. No tempo em que quem acampava não usava tênis de alta performance, nem camisa de "tecido especial" e nem cantis que fazem capuccino.

-"ADORO! Adoro meus três sobrinhos!" - Disse o pescador bêbado em uma noite na vila isolada sem luz, nem chão, nem nome. Entre muito mar e muitas árvores.
-"Todos os três?" - Disse eu, o "não pescador" forasteiro branquelo para quem a vila fez uma festa. Bêbado.
-"TODOS!!! O Joséééééé...... e o Marcossss... e... e.... eeeee... e o HARRY!"
-"Harry?"
-"O José, o Marcos e o Harry."
-"Um brinde a eles."
-"Saúde."

A vida era muito mais interessante antes dos tênis de alta performance e camisas de tecido especial.

O cantil que faz capuccino deve ser legal.

domingo, 22 de maio de 2011

É meio complicado. Então tchau, SP.

Ando dando tchau para SP. São meus últimos dias por aqui. Reluto em partir. Uma parte de mim quer muito ficar.

Esbarrei nos melhores e piores professores. Nos melhores e piores relacionamentos. Nas pessoas mais perturbadas emocionalmente. Nas pessoas mais egoístas. Nas mais cultas e nas mais estúpidas. Nos melhores cinemas, teatros, shows e idéias. Foi por São Paulo que eu conheci mais gente do mundo todo. Foi por São Paulo que eu conheci a nossa miséria profunda e a nossa riqueza extrema. Eu mergulhei, literalmente, nas entranhas do lixo e do luxo disso tudo.

Isso tudo me consumiu até eu chegar no fundo do fundo. Na bebedeira, no descaso com os outros, no abandono de mim.

Morei em outras cidades, outros estados, e nesses tive armas apontadas para a minha cabeça, fui espancado, roubado e chamado, explicitamente, de diversos nomes nada bonitos. Trabalhei e me embebedei com assassinos e outros criminosos. Sempre entendi todos. Entendi. Essas relações sempre foram muito, muito simples.

São Paulo me mostrou as pessoas que eu não entendia. As que acabaram com o meu coração, as que me esfaquearam no fundo da alma, as que fariam tudo para subir um milímetro a mais depois de estarem além das nuvens. São Paulo me violentou de um jeito que eu achei que não poderia ser violentado. Me mostrou que a vida é mesmo uma novela absurda.

Agradeço de coração por isso. Hoje eu sei mais do mundo. Eu sei mais do homem.

Se eu perdi uma ingenuidade confortável e ganhei mais cabelos brancos, mais rugas e mais cansaço, eu também ganhei mais compreensão sobre o que podemos ser. Isso faz com que eu tenha menos raiva das pessoas.

Continuo com as mesmas dificuldades de viver no planeta. Mas não acho mais que somos o câncer do universo.

Somos só macacos que pensam que são grande porcaria (e sofrem por essa merda toda quando deveriam aproveitar enquanto podem).

Beijos, SP. Não me ligue. Já vou sentir saudade suficiente.

PS: Se você achar que me entende eu provavelmente vou rir da sua cara. Mesmo que entenda de verdade.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

uma ou duas gotas pro santo

Fui almoçar hoje aqui perto. Estou em SP por uns dias, pra me despedir. O que está me custando bastante.

Sentei no restaurante lotado, ao meu lado um casal discutindo, juntinhos, algo importante quando a moça dá um tapinha no braço do moço.

-ai! Isso machuca!
-Dói?? Sua bicha! Ferida na alma é que não se cura!!

Senti que o cara foi escroto em algum momento e, naquela hora, a moça estava tendo um prazer sadomasoquista/vingativo em estar ali conversando. O seu rosto com um sorriso debochado e olhar triste pendurados não escondia isso.

-Você é incapaz de chorar, seu escroto.

O cara tenta chorar, mas não é bem sucedido. Péssimo ator. Não é a toa que a moça descobriu o que quer que ele tenha feito.

Levantei e fui embora. Aquilo ali estava me cansando. Percebi, no caminho, como havia casais com semblantes tensos espalhados pelos cantos. Bem corriqueiro, dentro e fora da minha vida.

Eu sou mentalmente zoado. Mas me parece que grande parte das pessoas está fodida em outro nível.

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"Moço, o senhor tem um trocado? Perdi o meu bilhete único, moro longe, não sei voltar pra casa, meu filho está doente, minhe esposa é alcólatra e acabei de perder o emprego".

Dei uma grana para a passagem de ônibus.

"Obrigado e vá com deus".

Espero que a pinga tenha sido da boa. Se eu fui com deus, tomara que ele tenha despejado algo pro santo.